Com alguma regularidade recebemos contatos para embelezar ou melhorar lagos artificias em parques urbanos. O que da primeira vista parece uma boa ideia, chega rapidamente aos seus limites. Porque muitas das vezes um melhoramento por biofiltragem ou embelezamento por plantas, que tornava a água do lago mais límpida e o cenário mais bonito, não é viável. Pela simples razão que os promotores não pensam de abandonar os peixes e patos que lá vivem.

Peixes e patos são vectores poluentes em lagos desta dimensão e a principal razão porque os lagos nos parques tem aspeto péssimo, falta de transparência da água e uma água pouca apetitosa. Como seres humanos relacionamos a água à nossa alimentação, mesmo ainda hoje em dia em que a água vem pela torneira.

Lembro-me bem aos passeios com os meus pais, aos Domingos, a circundar a cidade medieval em que vivemos. Fora da muralha existiam parques extensos, e sim, com lagos. E sim, com peixes, patos e até cisnes. E um repuxo, que gostamos especialmente. Mas a água era uma desencanto. Na altura não consegui explicar, porque como criança não relacionava o aspecto morto e triste da água com a bicharada que foi colocada lá. Até boiavam pedaços de pão, porque outros achavam boa ideia de resolver o assunto do pão seco do dia anterior nesta maneira …. A margem consta um bordo em betão, não havia planta nenhuma, nem na margem, nem nenúfares que poderiam ter gostado do sítio. Não havia rãs. Afinal, com toda a boa vontade por parte dos gestores, era um sítio sem alma.

Com a minha experiência profissional de hoje dói-me essa lembrança, confesso. Sim, era possível de ter lagos nos parques da cidade, com água transparente e límpida. A tecnologia de soluções bio-baseadas permite configurar sistemas de tratamento de água bem eficazes, seja para água balnear, seja para água de recreio, seja para águas residuais. Mas por uma condicionante forte: tinha de ser um ecossistema sem bicharada domestica, sejam patos, sejam peixes! E sem cães que lá tomam banhos.

No espaço público há acesso para todos. Quem garante que alguém “experto” não acha que os peixes fazem lá falta? E mete alguns “peixinhos” e estraga, por ignorância,  um projeto bem feito. E danifica, nesta forma, um ecossistema criado para encantar os visitantes de um espaço público. Assim, a boa vontade, por falta de conhecimento, torna-se facilmente num ato de sabotagem. Se calhar, ainda não é tempo para implantar este tipo de ecossistema nos parque urbanos?